Capítulo 10
A Lei da Analogia da Fé
ESTUDOS EM HERMENÊUTICA BÍBLICA Ou, Leis Básicas de Interpretação da Bíblia Pr. Davis W. Huckabee
Consideramos aqui de novo a Lei que está relacionada com a Lei anterior, embora com uma abrangência bem maior. A Lei Sete lidava com a Referência Paralela — isto é, com a consideração de assuntos relacionados dentro do mesmo tema geral. Observamos então que deve haver harmonia geral entre as divisões de qualquer assunto se são ambos verdadeiros. Mas agora devemos ir ainda mais além e considerar que se as Escrituras são na realidade uma revelação de Deus, dadas para revelar Sua vontade para o homem, então todas Elas devem harmonizar umas com as outras. A qualquer momento em que uma de nossas interpretações contradisser outra interpretação, há evidência de que uma ou outra ou ambas são falsas, pois o Deus perfeito e santo não pode dar uma revelação imperfeita ou falsa. O homem erra com suas interpretações, suas traduções, e de outras maneiras, mas não se pode culpar Deus por isso. Era comum os teólogos falarem sobre “A Analogia da Fé”, mas poucos hoje sabem o que isso significa.
Com “Analogia da Fé” o que se quer dizer é o inter-relacionamento harmonioso de todas as doutrinas dentro dos limites das Escrituras. As doutrinas da Bíblia não se chocam nem se contradizem, mas constituem um só sistema complexo da verdade. Nas Escrituras, é isso o que se chama “A Fé”, pois há uma vasta diferença entre o verbo crer, ou, ter fé, e o substantivo “a fé”, que é o objeto ao qual a fé do crente se dirige. T. T. Eaton salientou de modo bem hábil essa diferença quase um século atrás.
“A fé do Novo Testamento é bem mais do que a mera aceitação de certos ensinos. Ter fé é mais do que crer. Um homem pode crer em tudo na Bíblia, de capa a capa, e ainda estar perdido. A fé do Evangelho é uma confiança do coração em Cristo como Salvador e Senhor, o coração que inclui a vontade, de modo que a ação vem em seguida… O que devemos crer, o que devemos ser e o que devemos fazer ‘de acordo com as Escrituras’ — essa é ‘a fé’ que foi entregue uma vez por todas e pela qual devermos ‘batalhar diligentemente’ — epi-agonize… O grego é epagonizesthai, —epi-agonize — e é a palavra mais forte em qualquer língua, até onde eu saiba, que expressa intensidade da luta. No Novo Testamento, só ocorre aqui [quer dizer, em Judas 3 — DWH]. Devemos agonizar para entrar pela porta estreita [Lucas 13:24 —DWH], mas devemos epi-agonize pela ‘fé que uma vez foi dada aos santos’. Essa, então, é a luta suprema de nossa existência. É mais importante que ‘a fé’ seja mantida do que qualquer outra coisa, sim, do que nossa própria salvação como indivíduos. Devemos agonizar pela nossa salvação, mas epi-agonize pela fé”. — Fé e A Fé, pp. 35, 45, 48-49.
A Lei da Analogia da Fé requer que toda interpretação que é aplicada a alguma palavra, versículo ou doutrina das Escrituras esteja em harmonia com o corpo geral da verdade em todo o restante das Escrituras. Não se pode tolerar interpretação alguma que contrarie a Palavra, em parte ou em tudo. Vê-se a importância dessa Lei no seguinte fato: quando é aplicada a uma parte da Palavra, uma interpretação equivocada tira a harmonia dessa parte com outra. Isso requer então reajustamente da interpretação da segunda parte, que pois a torna fora de harmonia com uma terceira parte, e assim por diante. O erro sempre progride e em nenhum lugar isso é mais evidente do que o erro na interpretação da Bíblia.
Mais uma vez, isso manifesta que o estudante sério da Bíblia não pode ser nem preguiçoso nem descuidado, pois deve haver um conhecimento completo de todas as doutrinas da Bíblia a fim de se colocar essa Lei em ação. Por isso, surge também o fato de novo de que o método correto de interpretação da Bíblia envolve muito de “comparar as coisas espirituais com as espirituais”.
A religião cristã não é um punhado de doutrinas isoladas ajuntadas num sistema desarmonioso e discordante, mas tem um grande foco central, em redor do qual todas as coisas nele giram, e esse centro é Cristo. É interessante observar que na medida em que o sol é o centro de nosso próprio sistema solar, assim Cristo é às vezes mencionado como o “Sol”, e outros termos tais que indicam que Ele é o centro do mundo espiritual. As Escrituras revelam Cristo nas seguintes personalidades: O Criador do Mundo, o Sustentador do Mundo, o Revelador do Pai, o Redentor dos homens, o Advogado junto do Pai, a Cabeça da Igreja, o Rei Vindouro do Mundo e o Juiz de todos os homens. Numa palavra, Ele é a fonte, sustentador e fim de toda a criação. “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Romanos 11:36)
Não só isso é assim, mas as Escrituras inteiras lidam com Ele de modo maior ou menor. Por esse motivo, está escrito: “Porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”. (Apocalipse 19:10) Sendo isso assim, é totalmente natural que todas as doutrinas das Escrituras sejam inter-relacionadas mediante o Senhor Jesus, e isso nos dá a razão para sempre buscar interpretar todas as partes da Palavra em harmonia com todas as outras partes das Escrituras. A Bíblia é, como convertidos sem cultura em algumas terras a têm chamado, “O Livro de Jesus”, pois Ele é a pessoa central nela, e todas as coisas que ela contém estão de alguma maneira relacionadas a Ele. Todas as doutrinas da Bíblia estão inter-relacionadas mediante o Senhor Jesus, e é por isso que se deve sempre considerar essa inter-relação em nossa interpretação da Bíblia. Fazer outra coisa é ignorar essa Lei da Analogia da Fé, e talvez produzir, através de nossa interpretação, um antagonismo entre duas doutrinas das Escrituras.
Autor: Pr Davis W Huckabee
Fonte: www.obreiroaprovado.com
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